Ronaldo Pedreira Silva
Tenho acompanhado a crise tarifária do
Brasil com os EUA e além das questões econômicas, (geo)políticas e outras, uma
me chamou a atenção: a crise educacional brasileira e suas consequências.
Vejamos: Os EUA são comercialmente
superavitários em relação ao Brasil. O que eles nos vendem? O que compram de
nós? Estamos lutando contra tarifas sobre o aço, café, suco de laranja, carne.
Claro que não se pode esquecer aviões e outros produtos intensivos em
tecnologia. Mas não são a maioria. Em sua grande parte exportamos produtos
primários ou outros de baixo valor agregado.
Somos reféns de ataques e chantagens,
porque não desenvolvemos tecnologias suficientes para nos tornarmos soberanos e
peitarmos outras potências. Por exemplo, nossas Forças Armadas dependem de
equipamentos e materiais de reposição de países estrangeiros, especialmente
estadunidenses. Os aviões produzidos pelo Brasil têm grande parte de seus
componentes vindos do exterior, especialmente dos EUA. E se eles bloquearem a
venda desses componentes, toda uma cadeia será prejudicada, inclusive o pós
venda e a perda de mercados duramente conquistados.
Agora, está bem visível que o projeto de
deseducação do Brasil deu certo. E os efeitos estão sendo sentidos, quando uma
potência estrangeira ameaça sobretaxar nossas laranjas, nosso café, nossa carne
e outros produtos, como já falei e se recusam a negociar, nos tratando como um
país sem importância no cenário global.
Somos maiores do que toda a Europa, com uma
grande população e um potencial sem comparação com qualquer país. Não podemos
abaixar a cabeça ante ameaças e interesses que nos ferem e comprometem
seriamente. Mas o Brasil está sendo tratado como um país que sequer pode se
defender. Uma fera, grande, forte, mas sem dentes e garras.
Voltamos a sermos uma economia do século
19, com desindustrialização notória, baixíssimo investimento em ciência,
pesquisa e desenvolvimento tecnológico e inovação.
O Brasil já foi modelo e referência para a
China e agora, somos seus fornecedores de matérias-primas e os chineses
rivalizam com a maior potência global em quase todas as áreas. Por que não
demos certo? Que fique a reflexão!!
Investir em educação de qualidade PARA
TODOS(AS) INDISTINTAMENTE, é crucial. Investir em pesquisa científica e
desenvolvimento tecnológico para nos tornarmos menos dependentes é questão de
sobrevivência nacional, de soberania e até mesmo de preservação de unidade. Um
Brasil fraco, dividido, partido é o sonho das grandes potências.
Já tivemos indústrias bélicas, por exemplo,
que forneciam equipamentos de alta qualidade e comprovada eficiência e que
foram deixadas à morte, desprezadas e fecharam. Nossas Forças Armadas não
conseguiriam fazer frente aos nossos eventuais agressores, porque compramos
deles os equipamentos militares. Pouco desenvolvemos os nossos e quando o
fazemos, seus componentes são estrangeiros em sua maioria. Seus sistemas de
comunicação, inclusive os criptografados e de posicionamento não são nossos.
Precisamos urgentemente deixar de desprezar
a Educação, a Ciência, a Pesquisa. Não estamos mais no século 19, quando a
maior riqueza era a quantidade de terras que se dominava. Precisamos enxergar o
novo cenário, fluido, constantemente mutável, intensivo em conhecimento. Por
exemplo, investir em defesa não é um desperdício. Os atuais conflitos estão
gritando isso. Não se respeita quem não tem condições de se defender de forma
contundente e persuasiva e que qualquer agressão poderá até ser bem sucedida, mas
a um preço inaceitável. Além disso, os resultados das pesquisas nessa área
geralmente retornam para a sociedade.
Como disse Derek Bok, (1930-),
ex-presidente da Universidade de Harvard: “Se você pensa que a Educação custa
caro, tente a ignorância.”
Pagamos para ver.
E estamos pagando caro.
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