domingo, 3 de agosto de 2025

Sobre a crise com os EUA (Reflexões)

 Ronaldo Pedreira Silva

Tenho acompanhado a crise tarifária do Brasil com os EUA e além das questões econômicas, (geo)políticas e outras, uma me chamou a atenção: a crise educacional brasileira e suas consequências.

Vejamos: Os EUA são comercialmente superavitários em relação ao Brasil. O que eles nos vendem? O que compram de nós? Estamos lutando contra tarifas sobre o aço, café, suco de laranja, carne. Claro que não se pode esquecer aviões e outros produtos intensivos em tecnologia. Mas não são a maioria. Em sua grande parte exportamos produtos primários ou outros de baixo valor agregado.

Somos reféns de ataques e chantagens, porque não desenvolvemos tecnologias suficientes para nos tornarmos soberanos e peitarmos outras potências. Por exemplo, nossas Forças Armadas dependem de equipamentos e materiais de reposição de países estrangeiros, especialmente estadunidenses. Os aviões produzidos pelo Brasil têm grande parte de seus componentes vindos do exterior, especialmente dos EUA. E se eles bloquearem a venda desses componentes, toda uma cadeia será prejudicada, inclusive o pós venda e a perda de mercados duramente conquistados.

Agora, está bem visível que o projeto de deseducação do Brasil deu certo. E os efeitos estão sendo sentidos, quando uma potência estrangeira ameaça sobretaxar nossas laranjas, nosso café, nossa carne e outros produtos, como já falei e se recusam a negociar, nos tratando como um país sem importância no cenário global.

Somos maiores do que toda a Europa, com uma grande população e um potencial sem comparação com qualquer país. Não podemos abaixar a cabeça ante ameaças e interesses que nos ferem e comprometem seriamente. Mas o Brasil está sendo tratado como um país que sequer pode se defender. Uma fera, grande, forte, mas sem dentes e garras.

Voltamos a sermos uma economia do século 19, com desindustrialização notória, baixíssimo investimento em ciência, pesquisa e desenvolvimento tecnológico e inovação.

O Brasil já foi modelo e referência para a China e agora, somos seus fornecedores de matérias-primas e os chineses rivalizam com a maior potência global em quase todas as áreas. Por que não demos certo? Que fique a reflexão!!

Investir em educação de qualidade PARA TODOS(AS) INDISTINTAMENTE, é crucial. Investir em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico para nos tornarmos menos dependentes é questão de sobrevivência nacional, de soberania e até mesmo de preservação de unidade. Um Brasil fraco, dividido, partido é o sonho das grandes potências.

Já tivemos indústrias bélicas, por exemplo, que forneciam equipamentos de alta qualidade e comprovada eficiência e que foram deixadas à morte, desprezadas e fecharam. Nossas Forças Armadas não conseguiriam fazer frente aos nossos eventuais agressores, porque compramos deles os equipamentos militares. Pouco desenvolvemos os nossos e quando o fazemos, seus componentes são estrangeiros em sua maioria. Seus sistemas de comunicação, inclusive os criptografados e de posicionamento não são nossos.

Precisamos urgentemente deixar de desprezar a Educação, a Ciência, a Pesquisa. Não estamos mais no século 19, quando a maior riqueza era a quantidade de terras que se dominava. Precisamos enxergar o novo cenário, fluido, constantemente mutável, intensivo em conhecimento. Por exemplo, investir em defesa não é um desperdício. Os atuais conflitos estão gritando isso. Não se respeita quem não tem condições de se defender de forma contundente e persuasiva e que qualquer agressão poderá até ser bem sucedida, mas a um preço inaceitável. Além disso, os resultados das pesquisas nessa área geralmente retornam para a sociedade.

Como disse Derek Bok, (1930-), ex-presidente da Universidade de Harvard: “Se você pensa que a Educação custa caro, tente a ignorância.”

Pagamos para ver.

E estamos pagando caro.

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